Um autor disse...

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"A não-violência absoluta é a ausência de danos provocados a todo ser vivo. A não-violência, na sua forma activa, é uma boa disposição para tudo o que vive. É o amor na sua perfeição." Mahatma Gandhi

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Reportagem 3_ tema: Violência

Para os pais de Realengo, a quinta-feira ainda não terminou

Famílias e alunos tentam voltar aos poucos à escola Tasso da Silveira, onde direção e professores lutam para tentar apagar as marcas do massacre

Homenagens no muro da Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, zona oeste do Rio

Homenagens no muro da Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, zona oeste do Rio (Selmy Yassuda)

“A primeira coisa foi retirar os projéteis, apagar as marcas físicas. Agora, começamos a mudança dos espaços de dentro da escola. Depois, a limpeza psicológica”, diz o diretor Luís Marduk

A semana na escola Tasso da Silveira, em Realengo, não começou. O calendário sofrerá alterações para que o ano letivo seja percorrido com calma, sem atropelar o trauma vivido pelas crianças naquele lugar. No colégio, a quinta-feira, quando Wellington Menezes de Oliveira matou 12 estudantes, ainda é uma lembrança viva no rosto de pais e de funcionários da escola. A sensação é de que ninguém acordou desde aquele dia, por não ter dormido. A sonolência, a vagarosidade e o cansaço são a cara da primeira semana após o massacre.

Robson Moreira Atanásio, de 37 anos, foi à escola na segunda-feira para tentar entender o incompreensível para um pai. A lembrança de sua filha Larissa dos Santos Atanásio, de 13 anos, morta na quinta, o levou a percorrer a instituição e imaginar o ocorrido. Ele se esforçou para visualizar as crianças se protegendo e sendo alvo fatal de Wellington. “Fiquei sabendo que ela estava deitadinha, olhando para o alto, com o rosto apoiado sobre as mãos”, contou Robson.

O pai levou Larissa à escola na terça e na quarta-feira da semana passada. Na quinta, recebeu um telefonema do irmão, que avisava de um louco atirando no colégio. “Não imaginava que era nessa proporção. Não sabia que ele estava ali para matar crianças inocentes”, diz. No caminho para Realengo, a revelação de que sua filha havia morrido. “Deus falou que ela estava com Ele, e era Ele quem ia cuidar da minha filha agora. Foi então que caí no choro.”

Atrás de onde Robson falava sobre Larissa, a visão era do muro da escola. Em uma das faixas penduradas estava dado o recado: “Os fortes usam o amor, os fracos usam as armas”. Os vasos de plantas deixados na porta do colégio se aglomeram. As flores murchas dividem o espaço com as novas, indicando que a marca deixada por Wellington não é passageira.

Vigília – Suyane da Silva, de 14 anos, uma das amigas de colégio de Larissa, não quer deixar a porta da instituição. Todos os dias, ela implora para ir ao local. A mãe da menina, Suely da Silva, de 41 anos, pediu que Robson conversasse com Suyane e insistisse que ela ficasse em casa. Das mãos do pai de sua amiga, Suyane viu fotos de Larissa e combinou de passar em sua casa. A corrente solidária é uma tentativa de restabelecer a vida.

Em seguida, mãe e filha vão na direção de Nilza da Cruz, de 63 anos, avó de Karine Lorraine de Oliveira, de 14 anos, morta no massacre. Quando as aulas voltarem, Suyane já combinou com o pai de passar o horário de aula ao seu lado, caso ela queira voltar antes para casa. “Vai mudar a nossa rotina, até que ela se sinta segura de novo”, conta Suely.

As mudanças na escola se iniciam aos poucos. São transformações físicas para tentar apagar a tragédia que está no seio da instituição. Essa geração da Tasso da Silveira nunca mais se esquecerá daquele homem estirado no chão da escadaria. Aquele lugar, localizado em uma pacata Rua de Realengo, foi cravejado. “A primeira coisa foi retirar os projéteis, apagar as marcas físicas. Agora, começamos a mudança dos espaços de dentro da escola. Depois, a limpeza psicológica”, diz o diretor Luís Marduk.

Cecília Ritto

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